"Não há fatos, só interpretações", Friedrich Nietzsche.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Relatório de Prática de Regência
Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano

Índice

Introdução

1.            Observação/Planejamento

·                    Conteúdo Programático de História - (3ª série do Ensino Médio).
·                    Bibliografia utilizada para o embasamento teórico das aulas.

2.            Prática/Regência

2.1  Primeira aula, 08 de novembro de 2010;
·                    Regimes totalitários e a propaganda.
2.2  Segunda aula, 16 de novembro de 2010;
·                    Segunda guerra mundial, o nazismo e a intolerância.
2.3  Terceira aula, 22 de novembro de 2010;
·                    Guerra fria, regime militar brasileiro e movimentos de contestação.
2.4  Quarta aula, 29 de novembro de 2010;
·                    Redemocratização do Brasil e fim da URSS.
2.5  Quinta aula, 30 de novembro de 2010;
·                    Revisão.

3.         Avaliação

·                    Exercício (2.0)
·                    Prova da IV unidade (8.0)

Considerações Finais

Anexos

·                    Ficha de freqüência.
·                    Fichas de avaliação da regência.
Introdução

O presente relatório visa descrever as experiências vividas por ocasião do cumprimento da disciplina de Prática de Ensino de História II (estágio curricular e componente obrigatório para formação no curso de licenciatura em História), ministrada pela professora Adriana Maria P. Silva. Esta disciplina tem como objetivo proporcionar aos licenciandos do curso de História uma breve vivencia e reflexão sobre a prática docente, observando e vivendo na prática as diversas atividades relacionadas ao magistério, como o planejamento e preparação das aulas, o contato direto com os estudantes, o processo de avaliação etc. A escola escolhida para o cumprimento da disciplina, o Ginásio Pernambucano, é a mesma escola que foi objeto de observação durante a disciplina de Prática de Ensino de História I, ministrada pelo professor David Cavalcante, e cujos objetivos principais eram a observação e caracterização da escola e dos grupos-classe escolhidos e a análise da prática docente nas referidas classes. O relatório desta disciplina encontra-se on-line, no endereço: http://viver-historia.blogspot.com.
            Para a melhor organização e relato das experiências vividas, o presente trabalho encontra-se subdividido em três partes: a primeira parte, observação/planejamento, descreve o contato pré-docência e as primeiras impressões do grupo-classe, a segunda, prática/regência, descreve o planejamento das aulas e as experiências vividas durante a regência, por fim, a última parte descreve o processo de avaliação dos estudantes.

1.    Observação/Planejamento

            A fase de observação/planejamento teve início no dia 13 de setembro de 2010, no final da III unidade e estendeu-se somente até a aula seguinte, no dia 20 de setembro de 2010. O professor orientador do estágio na escola, o Sr. João Alves bezerra, havia assumido a turma há poucos dias, em substituição ao professor original, que precisou ausentar-se durante o restante do ano letivo por motivos pessoais. Na primeira aula fui apresentado ao grupo-classe escolhido, a turma noturna do 3º ano do ensino médio, pelo professor, que explicou aos alunos que eu lecionaria para eles posteriormente como parte de um estágio curricular. Neste primeiro momento pude observar a turma e constatar que, apesar de ser uma classe noturna, do tipo que geralmente concentra estudantes de uma faixa etária mais elevada, que trabalham durante o dia e costumam se mostrar mais concentrados em sala do que estudantes de classes mais jovens, esta turma, que possuía cerca de 25 estudantes assíduos (dos quais muitos trabalhavam durante o dia) demonstrou não comportar-se muito diferente da maioria das turmas mais jovens que conhecemos.
            De fato, aquela turma me fez recordar os tempos de ginásio, quando os professores passavam boa parte da aula disputando a atenção de alunos distraídos em conversas paralelas. As dificuldades começavam ainda no início das aulas, poucos alunos chegavam na hora certa e o restante deles, que chegavam até 50 minutos atrasados, faziam questão de entrar na sala fazendo barulho e atrapalhando as aulas já iniciadas. Durante as aulas alguns estudantes simplesmente formavam “rodinhas” de conversas que perturbavam o ambiente e exigiam advertências constantes por parte do professor enquanto outros se esforçavam para prestar atenção às exposições. Nas páginas seguintes falarei sobre outras situações inusitadas com as quais me deparei enquanto lecionava e como fiquei um tanto malquisto por uma parte da classe.
           Transcrevo abaixo o conteúdo programático da disciplina de História definido para a IV unidade. Observe que os temas das aulas citadas no índice deste relatório não coincidem exatamente com o conteúdo programado abaixo. Isto acontece porque durante o curso o professor orientador e eu decidimos incluir uma aula sobre a segunda guerra mundial e o nazismo, temas que por causa da ausência forçada do professor original não haviam sido estudados adequadamente na unidade anterior. Nas demais aulas, mesmo não seguindo à risca a organização dos conteúdos didáticos definida abaixo, busquei contemplar todos os temas propostos utilizando algumas abordagens que julguei interessantes e que serão mais bem explicadas nas páginas seguintes.

Conteúdo programático de História - IV unidade - 3º ano H

·                    A Ditadura no Brasil (o movimento de março-abril de 1964 e o autoritarismo modernizador dos Governos Militares no Brasil. A Constituição de 1967 e suas emendas; a legislação autoritária; a resistência e a repressão. A distensão, a abertura).
·                    A Crise do Bloco Soviético e a Economia Globalizada (Reunificação da Alemanha. Europa Oriental e China. A Fragilidade da América Latina: Argentina e Haiti. Sociedades Capitalistas Contemporâneas: EUA, União Européia e Japão. As crises do Oriente Médio; a questão islâmica; o “apartheid”).
·                    O Brasil e a “Nova República”. (A “transição democrática”. A política externa, o quadro econômico, a vida cultural e as políticas educacionais do período)

E aqui, a bibliografia utilizada para o embasamento teórico das aulas:

·                    Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991, de Eric Hobsbawm, Editora Companhia das Letras;
·                    O ensino de História, de Flavio Campos e Renan Garcia Miranda, Editora Escala Educacional.

2.   Prática /Regência

Após estes primeiros contatos, quando já estava pronto e ansioso para começar a regência, diversos imprevistos (abaixo detalhados) causaram o impressionante atraso de seis semanas no calendário escolar e, por isso, a 4º unidade, que estava prevista para começar ainda no final de setembro teve início apenas na segunda semana de novembro.  
·                    27/set/2010 – a escola fechou as portas por falta de água.
·                    04/out/2010 – a escola fechou as portas por falta de água (segundo o calendário escolar, seria a data de início da 4ª unidade).
·                    11/out/2010 – imprensado, véspera de feriado.
·                    18/out/2010 – fui para a escola, porém os alunos não foram.
·                    25/out/2010 – feriado antecipado do servidor público.
·                    01/nov/2010 – a escola fechou as portas, véspera de feriado
Assim, somente no dia 08 de novembro pude iniciar a fase de regência do estágio. 

2.1  Primeira aula
Tema: Regimes autoritários e a propaganda.
           
Para esta primeira aula eu havia pesquisado alguns textos sobre as estratégias de propaganda que regimes autoritários como a ditadura militar brasileira e o regime nazista usavam para conquistar o apoio das pessoas e legitimar-se no poder. Preparei então uma aula expositiva sobre o tema com a uma explicação teórica e a apresentação de algumas figuras que mostravam antigas campanhas publicitárias da época do regime militar e do nazismo. Creio que consegui fazer uma aula bem satisfatória neste dia, pois consegui minimizar o problema de dispersão da atenção da turma e das “rodinhas” de conversas paralelas a contento, concentrando bem a atenção deles e conseguindo que muitos participassem perguntando e comentando sobre os conteúdos. Estava confiante e me comunicando com fluência e desembaraço, e o fato de ser um professor “novato” e de parecer ser apenas um pouco mais velho do que eles também deve ter ajudado neste primeiro contato. Nesta primeira aula não anotei nada no quadro, o que mais tarde percebi que foi um erro, pois, apesar da aula ter sido bem dinâmica e participativa, os alunos sentiam necessidade de fazer anotações para fixarem melhor os assuntos estudados, e eu só me dei conta desta necessidade e passei a organizar no quadro um resumo das aulas com os principais tópicos a partir da terceira aula porque alguns alunos vieram conversar comigo para dizer que se sentiam um tanto perdidos em meio a tanta informação que eu apenas despejava sobre eles.    

2.2  Segunda aula
Tema: Segunda guerra mundial: o nazismo e a intolerância.
           
Como mencionado anteriormente decidimos incluir entre os temas que seriam estudados na 4ª unidade, a segunda guerra mundial e o nazismo, já que estes assuntos ainda não haviam sido estudados e por tratar-se de conteúdos indispensáveis àqueles estudantes que já estão concluindo o ensino médio e prestando exames vestibulares. Foi uma aula expositiva assim como a anterior, mas não tão bem sucedida, desta vez foi mais difícil concentrar a atenção deles. Eu estava bem preparado, havia lido alguns textos e organizado um roteiro para uma explanação sobre as políticas de segregação racial na Alemanha nazista citando também exemplos mais recentes em outros países como África do Sul e Estados Unidos, mas enquanto eu tentava lecionar formavam-se “rodinhas” de conversas que sem cerimônia alguma falavam e riam em alto volume interrompendo a aula constantemente. Para piorar, nesta aula eu também não escrevi nada no quadro para que eles anotassem, o que, observei nas aulas seguintes, no mínimo poderia tê-los deixado um pouco mais ocupados e focados no conteúdo exposto.
Também nesta segunda aula passei um exercício valendo dois pontos com três questões abertas sobre os assuntos estudados naquela aula e na anterior (transcrito junto com a prova da unidade, no capítulo deste relatório que trata da avaliação) que inicialmente deveria ser entregue naquele mesmo dia, mas apenas alguns alunos entregaram na hora e eu ainda pedi que alguns destes refizessem o trabalho e me entregassem na semana seguinte, grande parte da turma só entregou o exercício no dia da avaliação. Muitos dos alunos não estavam sequer tentando fazer o exercício, reclamavam que não sabiam as respostas (apesar de eu ter explicado aqueles assuntos em detalhes nas aulas anteriores) e mantinham-se dispersos em conversas paralelas. Foi ao final desta aula que fui abordado por um pequeno grupo de alunos que me sugeriu que fizesse anotações no quadro para facilitar a organização e a fixação dos conteúdos.    

2.3  Terceira aula
Tema: Guerra fria, regime militar brasileiro e movimentos de contestação.
           
            A terceira aula, assim como as anteriores também foi uma aula expositiva, eu havia preparado um resumo com os principais tópicos para escrever no quadro para que eles anotassem, o que os mantinha mais focados e ajudou a diminuir um pouco (bem pouco) a perturbação habitual da classe. Revisitamos o tema da ditadura militar brasileira agora contextualizando com a guerra fria e com os diversos movimentos de contestação vividos na segunda metade do século XX. Nesta aula e em todas as anteriores acontecia bastante também de fugirmos um pouco dos temas planejados devido às perguntas e comentários que os estudantes faziam.            

2.4  Quarta aula
Tema: Redemocratização do Brasil e fim da URSS.

Na quarta aula tive a oportunidade de usar o outro horário de aula, que estava vago, para repor uma das aulas que haviam sido canceladas e aproveitei para tentar a implantação do projeto de Intervenção no laboratório de informática, no segundo horário. Iniciei com uma aula expositiva sobre processo de redemocratização brasileiro, a campanha das diretas já e a abertura política. Foi uma aula proveitosa apesar de apresentar os mesmos problemas o de dispersão da atenção e conversas paralelas observados desde o início naquele grupo-classe. Nesta turma me dei conta da dificuldade imensa que é ensinar alunos que não levam as aulas nem o professor a sério e tampouco se importam em aprender. Obviamente nem todos os alunos da classe são assim, também há aqueles que demonstram interesse e participam das aulas. No horário seguinte, como explicado no relatório do projeto de Intervenção, levamos os alunos para o laboratório de informática e lá tentamos ministrar uma aula sobre o fim da guerra fria e da URSS que está relatada em detalhes no referido relatório

2.5  Quinta aula
Tema: Revisão

            Creio que a aula de revisão foi mais satisfatória de todas que ministrei para o grupo-classe escolhido. Mais uma vez fiz um resumo com os principais tópicos estudados até então para que eles levassem anotações para casa e pudessem pesquisar os temas que seriam pedidos na prova da IV unidade, que estava marcada para a aula seguinte. Originalmente não haveria aula de História naquele dia e sim de Sociologia, ministrada também pelo professor orientador do estágio na escola, que precisaria ausentar-se naquele dia e, sabendo de nossa necessidade de completar a carga horária do estágio, combinou conosco para que cobríssemos os horários disponíveis com as aulas de revisão. Apesar de enfrentar os mesmos problemas observados nas aulas anteriores, esta aula foi bastante proveitosa, pude fazer uma explanação geral de todos os assuntos estudados na IV unidade e tirar diversas dúvidas dos alunos. Neste dia, em determinado momento da aula, haviam se formado “rodinhas” de conversas que simplesmente agiam como se não estivesse havendo atividade nenhuma na sala, alguns dos alunos estavam literalmente de costas para a aula, conversando e rindo animadamente, o que realmente atrapalha a concentração do professor muito mais do que eu imaginava. Em determinado momento, depois de várias advertências, me aproximei de um dos grupos que conversavam completamente alheios à aula e perguntei-lhes um tanto contrariado: “onde vocês estão? Numa sala de aula ou numa mesa de bar?”, depois de uma reclamação mais assertiva consegui minimizar as conversas paralelas e fazer uma revisão bem ampla dos conteúdos estudados.            


3.  Avaliação

O processo de avaliação para obtenção da nota da 4ª unidade consistiu do exercício valendo dois pontos passado ainda na segunda aula e da prova da unidade valendo oito pontos, ambos os exercícios elaborados por mim de acordo com os assuntos estudados em sala. Seguem abaixo as perguntas do exercício valendo dois pontos e a avaliação da 4ª unidade;

Exercício

1. O movimento de 1964 que derrubou o governo de João Goulart foi um golpe ou uma revolução? Justifique.
2. Cite estratégias que os regimes autoritários costumam usar para conquistar o apoio das pessoas e legitimarem-se no poder.
3. Elabore e responda uma pergunta sobre qualquer um dos temas estudados em sala

Avaliação da IV unidade

1. Nos anos anteriores ao início da 2ª Guerra Mundial a Alemanha viu nascer e se fortalecer em seu território um movimento ideológico liderado pelo Partido Nazista Alemão, o nazismo, que ao chegar ao poder iniciou aquela que seria considerada a maior guerra da História. O que defendia este movimento? Cite estratégias que seus líderes usavam para convencer a as pessoas a apoiarem o nazismo

2. A 2ª Guerra Mundial é considerada por diversos historiadores a “Guerra Total”. Qual o significado desta expressão?

3. Com o progresso das telecomunicações, o barateamento e difusão de meios de comunicação em massa, a propaganda como arma de manipulação de massas tornou-se uma nova dimensão da guerra. Durante a Guerra Fria qual foi a importância da propaganda?  Será que ainda hoje é importante? 
4. Assinale verdadeiro V ou falso F às assertivas abaixo acerca da Guerra Fria:
(   )  A Guerra Fria foi assim chamada porque se restringiu às regiões mais frias do Norte da Ásia e Europa.
(  )  A Guerra Fria foi um conflito indireto de proporções globais entre as principais potências que emergiram após o fim da 2ª guerra mundial: EUA e URSS.
 (    )  Durante a Guerra Fria, e relacionados a ela, estouraram golpes militares e guerras civis em diversos países sob a influência direta de uma das potências ou de ambas.
(   ) A Guerra Fria se restringia apenas às disputas militares e econômicas entre as potências. Do ponto de vista ideológico não havia conflito algum.
(   )  Em 1964, com o golpe militar, o Brasil passou a ser governado por um regime autoritário que, no contexto da Guerra Fria, era aliado aos Estados Unidos contra a União Soviética.
           
            Apesar de todos os assuntos acima terem sido estudados e revistos em sala, os resultados da avaliação deixam muito a desejar. As notas só não foram piores porque havia uma questão de múltipla escolha na prova (eles queriam que fossem todas assim). Pude constatar que boa parte daqueles estudantes simplesmente não gostam de escrever e tampouco pareciam estar dispostos a se esforçar o mínimo que seja para responder as perguntas. O exercício que passei na segunda aula só foi entregue por vários alunos no dia da avaliação, até porque eu devolvia os que estavam malfeitos ou copiados dos colegas para que eles refizessem, haviam mesmo muitas repostas idênticas (cheguei a receber no último dia, durante a avaliação, cinco daqueles exercícios valendo dois pontos identicamente malfeitos, mereciam zero mesmo se não fossem cópias). Durante a aplicação da prova, que foi explicada em detalhes, muitos estudantes reclamavam das questões abertas alegando não saber as respostas. Para ajudá-los, disse-lhes que, se não soubessem exatamente as respostas das perguntas, que tentassem então falar tudo o que sabiam sobre os temas estudados, pois para avaliá-los eu precisava que eles “pusessem para fora” o máximo possível do que eles aprenderam. Ainda assim alguns entregaram a prova tendo respondido apenas a última questão.    
Considerações Finais

De modo geral creio que o estágio foi bastante proveitoso, pois pude vivenciar o cotidiano da sala de aula no papel do professor e, inclusive, deparando-me com as situações adversas que todo professor acaba enfrentando um dia, como o desafio de conduzir uma aula em turmas um tanto inquietas e desinteressadas, ou administrar eventuais atritos com estudantes. Na turma em questão, por reagir de uma maneira um tanto rígida para enfrentar o problema da falta de atenção deles e das conversas paralelas durante as aulas, e por causa das avaliações com questões abertas, que muitos nem se deram o trabalho de tentar responder, alguns alunos disseram não ter gostado do meu período como professor, alegando que sou um professor rígido demais. Enquanto outros, fiquei sabendo posteriormente pelo professor, me defenderam dizendo ter gostado das aulas e elogiando o meu trabalho. Na verdade gostei muito da experiência, a ponto de lamentar o curto espaço de tempo que tive para lecionar. Sendo sincero, parece-me que o tempo que dispunha não foi suficiente para conhecer melhor o grupo-classe e conseguir resultados melhores. Fiquei mesmo com vontade de lecionar para uma turma desde o início do ano e ver o quanto posso conseguir dedicando-me durante um prazo maior.